domingo, 18 de setembro de 2011

FORTE DE SAN MIGUEL

Por vezes me acho um tanto repetitivo quando me refiro a determinados lugares como "FANTÁSTICOS", porém depois de termos visitado o "Forte de San Miguel" e a "Fortaleza de Santa Teresa", não consegui encaixar nenhum outro adjetivo menos expressivo do que o repetido "fantástico", talvez quem sabe um "Extraordinário" ou ainda muitos outros do mesmo nível, mas nada menor. Isso tudo é claro, para nós e para os muitos que acham o assunto interessante, vou tentar mostrar com fotografias um pouco do que vimos, mas nada se compara ao poder incrível da imaginação que estimulada se transforma em uma "máquina do tempo" dos que pessoalmente tem a oportunidade de estarem em lugares como estes. Primeiramente falaremos sobre o "Forte de San Miguel", menor, mas não menos encantador que a "Fortaleza de Santa Teresa", muitas vezes citada, mas a veremos com mais exclusividade na próxima postagem desse mesmo marcador.
Os dados a seguir foram coletados em uma pesquisa que realizei visando poder passar mais informações históricas aos leitores que poderão ter uma melhor interpretação fazendo uma fusão texto-fotos.

O "Forte de San Miguel" está situado em território uruguaio, no Departamento de Rocha a aproximadamente 7 Km da cidade de Chuy que faz fronteira com a cidade brasileira de mesmo nome (Chuí).

O acesso a área do forte está indicado com placas na rodovia.


Placa que mostra a entrada da região do Forte de San Miguel.

A construção das fortificações de "San Miguel" e "Santa Teresa" é consequência direta dos conflitos de limites territoriais entre Portugal e Espanha, que comessou no século XVI com a colonização portuguesa na América do Sul. Esse conflito tornou-se intenso na "Banda Oriental" (hoje Uruguai) no final do século XVII, quando os lusitanos estabeleceram-se na praça forte de Colônia do Sacramento e mais tarde no século XVIII, em 1723, quando fortificaram a baía de Montevidéo.

A primeira estrutura de "San Miguel" remonta a uma simples fortificação de campanha, erguida em 1734 por forças espanholas sob o comando de "Alferes Esteban del Castillo", com a função de dissuadir a presença portuguesa na região. Esta primitiva estrutura empregava "tepes" - pedaços de terra cobertos de grama ou ervas, endurecidos pela grande quantidade de enraizamentos. Com o estabelecimento do cerco espanhol à Colônia do Sacramento (1737), essa fortificação de campanha foi abandonada.

Registro Histórico...


...Agora mais aproximado.

Posteriormente foram realizadas obras para um segundo estabelecimento no local, por forças portuguêsas, o fracasso lusitano de fortificar Montevidéo não empediram no entanto, de tentarem novos povoamentos,  foi atribuída a sua reconstrução ao engenheiro militar "Brigadeiro José da Silva Paes" no final de 1737, com a função de posto avançado para monitorar as atividades espanholas na região da serra de San Miguel.

O forte localiza-se no sopé da serra de San Miguel a 35m acima do nível do mar.
Região do sopé da serra de San Miguel cercada por grandes pedras.

Sua planta apresentava o formato de um polígono retangular em alvenaria de pedra, com dois baluartes nos lados menores, separados por cortinas (outros autores atribuem a autoria da planta ao arquiteto militar português "Manuel Gomes Pereira", substituído mais tarde pelo "Capitão Antônio Teixeira Carvalho").

Por volta de 1740, a sua planta já evoluíra, apresentando o formato estrelado, com 4 baluartes pentagonais nos vértices, ajustando-se assim em grande parte o que impuserá as regras da Escola de Fortificações dessa época denominada abaulardada e que havia sido imposta no século XVII pelo "Marechau Vauban", com muralhas e as edificações internas de serviço erguidas em aparelho irregular de alvenaria de pedra.

Para se ter uma noção geral, maquete do Forte de San Miguel em exibição na Fortaleza de Santa Teresa, bem como a maquete de todas as fortificações antigas no Uruguai.


"Fuerte de San Miguel".


Forte de "San Miguel" - Departamento de Rocha / Uruguai.


Forte de "San Miguel" - Rocha - UY.


"Fuerte de San Miguel - Uruguay".

De menores proporções que a vizinha "Fortaleza de Santa Teresa" na região, recebeu um acabamento menos acurado devido à inexistência de pedras de granito no local, sendo empregada uma pedra granítica rosada que o caracteriza, em aparelho irregular. Portanto o material utilizado no Forte San Miguel foi pedra acunhada o que o faz menos resistente que a da Fortaleza de Santa Teresa que é de pedra "sijería".

Pedra granítica rosada (acunhada).

Dadas as suas reduzidas dimensões, não foi possível construir rampas que unissem os planos superiores dos baluartes, onde se abrem 18 canhoneiras no local, e o do terrapleno. Em consequência, acredita-se que a artilharia tenha sido transportada por força humana pelas escadarias, para as respectivas posições de tiro.

Apresenta planta no formato retangular, com baluartes pentagonais nos vértices, arrematados por guaritas.



Escadaria no interior do forte que dá acesso a um dos baluartes.


Baluarte frontal esquerdo.


Baluarte no Forte de San Miguel.


Fuerte de San Miguel - Uruguay.


Fortificação de San Miguel - Rocha / UY.


Os baluartes eram arrematados por guaritas que serviam para vigilância de cada setor e também para correção das respectivas posições de tiro quando em combate.


Muralhas do San Miguel.


O perímetro de suas muralhas totalizam 300m.


O parque que circunda o Forte possui vegetação "autóctona".

O acesso ao forte era feito por uma ponte levadiça, sobre um fosso inundado. No terrapleno, no lado fronteiro à estrada, ergue-se o edifícil da Capela. À direita, distribuem-se os edificios da Cozinha e o Quartel da Tropa (Alojamento). No lado oposto, ficavam o Poço e os edificios da Casa de Pólvora (Paiol), do Quartel do Comando e do Quartel dos Oficiais, protegidos pelas muralhas, cobertos por telhas em meia água. Toda construção militar dessa época contava com uma Capela.

Na segunda metade do século XVIII a obra perde importância e no momento da construção da Fortaleza de Santa Tereza encontrava-se em ruínas.


Acesso ao interior do forte, ponte levadiça.


Corpo da guarda. Portão das armas visto pelo lado interno.


Da esquerda para direita: Alojamento do Capelão, alojamento do comando e o predio da direita da foto é o alojamento dos oficiais.


Cozinha do forte.


Cozinha.


Alojamento da tropa.


Na esquerda alojamento da tropa, a escadaria sobe para o baluarte frontal esquerdo, ao centro o corpo da guarda e bem na direita o alojamento do Capelão.


Poço.


Profundidade de 7m.

Polvorín (paiol), sala carente de janelas, com um sistema especial de ventilação, concistente em dutos. Desta maneira era possivel manter a pólvora nas condições necessárias para o seu uso.

Paiol, a frente o poço e a escada dá acesso a mais um baluarte, agora guarnecendo a retaguarda do forte.



Forte de San Miguel - "Fantástico".

O forte teve a função de vigiar a antiga linha raiana denominada como "Linha de Castillo Grande", estabelecida pelo tratado de Madrid de 1750. Essa linha de fortificações, teóricamente, deveria separar as terras de Portugal e Espanha. Por isso foram disputados (San Miguel e Santa Teresa) várias vezes, estando hora em poder de um lado, hora de outro.

O Artigo XVIII do tratado de Madrid (1750), dispunha que Portugal conservava a linha do monte de Castillo Grande, com a sua falda meridional (Sul), e o poderá fortificar mantendo alí uma guarda. Diante da assinatura do Tratado de El Pardo (1761), que, na prática, anulava o de Madrid, o governador e Capitão-general da capitania do Rio de Janeiro, "Gomes Freire de Andrade" (1733-1763), antecipou as consequências do mesmo pra região sul, que conhecia bem. Ordenou assim ao governador da Colônia do Rio Grande de São Pedro, "Coronel Elói Madureira", o envio imediato de tropas de Laguna para Região, determinando o mesmo ao "Tenete-coronel Tomás Luis Osório", comandante das tropas de Cavalaria do Regimento dos Dragões e do Forte Jesus, Maria, José do Rio Pardo.

Reunindo pouco mais de 1000 homens, a estratégia portuguesa era a de construir rapidamente uma linha defensiva fortificada, ao sul do Forte de San Miguel no arroio Chuí, para deter a invasão espanhola em progresso, após a conquista da Colônia do Sacramento (outubro de 1762) pelo governador de Buenos Aires, "D. Pedro de Ceballos", à frente de cerca de 3000 homens reunidos em Maldonado. Dada a premência de tempo, apenas foi iniciado o forte de Santa Teresa (dezembro de 1762), uma fortificação de campanha guarnecida por cerca de 400 homens e artilhada com algumas peças de pequeno calibre, fechando o camiho terrestre na altura de "Castillo Grande", conquistado por "Ceballos" em abril de 1763.

Prosseguindo a marcha sobre o Rio Grande de São Pedro, "Ceballos" conquistou em seguida o Forte de San Miguel (abril de 1763). Na ocasião, os espanhóis procederam-lhe reparos e melhorias. Mais tarde, ante a iminência de uma invasão britânica em 1775, o engenheiro extraordinário "D. Bernardo Lecocq", a serviço do Vice-reino do Prata, efetuou obras de reforço na estrutura do forte.

Com o tratado de Santo Idelfonso (1777), a posse deste forte ficou ratificada para Espanha. Novos reparaos foram efetuados pelas mesmas razões de 1775, em 1797. Em 1808, a Banda Oriental do rio da Prata foi anexada pelo principe-regente de Portugal, "D. João VI" (1808-1816). Com a proclamação de independência das Provincias Unidas do Rio da Prata (7 de julho de 1816), e as agitações dela decorrentes, a Banda Oriental foi ocupada militarmente por uma força portuguesa de 6000 homens sob o comando do "General Carlos Frederico Lecor", que entrou vitorioso em Montevidéo (1817). A luta prosseguiu até a derrota definitiva dos partidários da independência na batalha de Tacuarembó, e a Banda Oriental foi anexada ao Brasil em 1821, com o nome de Provincia Cisplatina.

A partir de 1825 recomeçaram as lutas pela independência da região, que se arrastaram até 1828. Nesse ano, com o auxílio da diplomacia britânica, a região se tornou independente como República Oriental del Uruguay (7 de agosto de 1828). Pelo Tratado de 15 de maio de 1852, que estabeleceu a demarcação fronteiriça pela embocadura do arroio Chuí, ambos os forte (San Miguel e Santa Teresa) permanecem em território uruguaio.


Marco divisório Brasil X Uruguay próximo ao Forte de San Miguel.


Brasil - Uruguay.

Em ruínas desde a guerra da independência do Uruguai (1825-1828), a história e a estrutura do forte foram resgatadas por uma comissão composta pelo "General Arquiteto Alfredo Baldomir", pelo "Historiador  Horacio Arredondo" e pelo "Arquiteto Francisco Capurro", que foi substituído posteriormente pelo "General Arquiteto Alfredo R. Campos" a partir de 1928, centenário da independência do Uruguai. A partir de 1933 o forte foi reconstruído de acordo com os planos originais, utilizando-se as técnicas de cantaria e de construção da época, restaurando-se as dependências da Casa do Comando, a casa da palamenta, a Capela, a Cozinha e os alojamentos. O forte foi declarado como Monumento Nacional (uruguaio) em 1937, intensificando-se, a partir de então, o seu processo de recuperação.

Placa fixada na parede do corpo da guarda, onde hoje funciona uma lojinha onde são vendidas lembranças e  livros históricos, todos relativos ao Forte de San Miguel.


Forte de San Miguel - Monumento Nacional do Uruguay.


Portão das Armas.


Forte de San Miguel -Rocha / UY.


Canhões do século XVIII.


"Fuerte San Miguel".


Sob a administração do Estado Maior do Exército da República Oriental do Uruguai, a estrutura encontra-se permanentemente aberta a visitação pública, abrigando um Museo de História Militar, onde se destacam a coleção de uniformes históricos das guarnições mostrando a sua evolução, também como utensílios, armas, prêmios e condecorações militares e também distintivos de graduações militares. Uma série de aquarelas do artista Emílio Regalía ilustra o material em exibição.


Bienvenidos al Fuerte San Miguel.


Forte San Miguel.


...Museo de História Militar, onde seria antigamente as dependências do alojamento da tropa...


Os vários tipos (calibres) de munições para os canhões, exibidas no Polvorín (Paiol).

Junto ao forte encontra-se o "Parador San Miguel", que permite a hospedagem nesse sítio histórico.
Também próximo ao forte encontra-se o "Museo Crioulo" que mostra a evolução do transporte rural, e o "Museo Indígena".


LA GUARDIA PERDIDA

Também na região do forte percorremos "El Sendero de la Guardia Perdida" (A trilha da Guarda Perdida).
Antiga guarda avançada do forte, que leva com ela o mistério de uma guarnição de homens que desapareceram sem deixar rastros nos distantes dias de luta entre hispânicos e lusitanos.

Guardia Perdida.

Ao final da trilha encontramos uma formação natural usada como guarda avançada, a qual resultava em grande perigo para o guarda durante a noite por conta de ataques de felinos famintos.



FORTE DE SAN MIGUEL, UMA VIAGEM AO TEMPO DA COLONIZAÇÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!




COORDENADAS:   33°41'21.78" S - 53°32'19.78" O

TEXTO:
Introdução, legendas e "Guardia Perdida": Valfredo Neves.

Texto em Negrito / Itálico, fonte http://pt.wikipedia.org/wiki/Fuerte_de_San_Miguel
Bibliografia - Souza, Augusto Fausto de. Fortificações no Brasil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

Texto em vermelho / Negrito, fonte - Comando Geral do Exército (Uruguai) - Estado Maior do Exército (Uruguai) - Departamento Estudos Históricos.


FOTOS: Valfredo Neves.







10 comentários:

  1. Otima apresentação. Excelente texto e fotos. Me convenceu a passar por S. Miguel.

    obrigado

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    1. Obrigado a vc !!!!!!!!!!!!
      Seu comentário nos estimula a prosseguir em nosso projeto!!!!
      Forte Abraço!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. Olá, achei sensacional. Vou aproveitar todas as dicas. Parabéns.

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    1. Obrigado Maria Aparecida!!!!!!
      Com certeza terá uma experiência incrível pode apostar...
      Forte Abraço!!!!!!!!

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  3. oiii parabens seu conteúdo é muito bom
    Sou irei dar uma critica construtiva OKK
    Seria melhor se a letra fosse maior e o fundo fosse claro e a letra escuro seia melhor.
    Boa Sorte !!!!

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    1. Olá !!!!!!
      Em primeiro lugar gostaria de agradecer pela sua participação, que acredite, me deixou muito feliz, pois a tempos não tinhamos comentários, os quais nos servem de termometro para medir se realmente estamos realizando um trabalho com qualidade e parabenizar pela sua incrível percepção colocada em sua crítica.
      Quando os textos são longos eu já tinha me dado conta de que com o fundo escuro e as letras claras parecem cansar as vistas realmente... Com o seu comentário realizei várias combinações de claro ao fundo e letras escuras, porém todas elas descaracterizavam o Design da página parecendo em algumas vezes que era colocada uma grande placa tapando a paisagem ao fundo, também teria que alterar as cores das letras de toda a página pois escurecendo o texto principal teríamos muita informações de cores descombinadas...
      Resolvi permanecer com as cores originais, porém aumentei a fonte como sugerido de 15 para 17, o que nos trouce um ganho considerável.
      Mais uma vez Obrigado e um Forte Abraço!!!!!!! Tudo de bom pra você!!!!!!!!

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  4. Olá
    Você foi de carro ou caminhando até a caverna na trilha da Guardia Perdida? Lembra da distancia partindo do forte?
    Obrigado

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    1. Olá!
      É muito próximo... caminhando pelo lado externo do forte achei despretensiosamente a placa que trazia a inscrição e segui pela trilha (sandero) que não é muito extensa... É super fácil, qualquer coisa é só perguntar no local.
      Grande Abraço!!!!!!!

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  5. Esse lugar é realmente incrível! Quando estou lá, é como se minha alma estive em casa. É uma energia espetacular. Parabéns pelo trabalho!

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    1. Olá Carla!
      Fiquei muito feliz com o seu comentário! Nos ajuda a aferir e nos estimula a prosseguir em nosso projeto.
      Obrigado Querida e um Grande Abraço!!!!!!!!!

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