terça-feira, 22 de agosto de 2017

BATALLA DE MASOLLER

Masoller é um vilarejo ou povoado que pertence ao Departamento de Rivera no norte do Uruguai. Fica na fronteira entre Brasil e Uruguai, onde na parte brasileira, está localizada a Vila Albornoz, pertencente ao município de Santana do Livramento - RS. Nesta região há uma área territorial brasileira contestada pelo Uruguai¹, também é onde está localizado o último marco fronteiriço da região, o 49-I, porém esses assuntos serão abordados em postagens exclusivas.

O que realmente nos chamou atenção em Masoller foi que no povoado aconteceu uma importante batalha da Revolução de 1904, talvez a mais sangrenta Guerra Civil da história do país.

No local há um monumento em homenagem ao General Aparício Saravia comandante das tropas do Partido Nacional ou como eram conhecidos "Blancos".

Em Masoller - Uruguai.


Monolito Batalla de Masoller - Uruguay.


 
Placas de reconhecimento homenageiam a campanha comandada por Aparicio Sarávia.

Num periodo de 7 anos (1897 - 1903) o país foi governado por Juan Lindolfo Cuestas, na época o Uruguai era dividido por dois partidos políticos, 6 departamentos eram governados pelos Blancos do Partido Nacional e os demais pelos Colorados, acordo conhecido como Pacto de La Cruz que teria encerrado a Revolução de 1897. Convocadas novas eleições, quem assume o governo do país é José Batlle y Ordoñes do partido Colorado, contrário a divisão partidária. Batlle queria reaver o governo dos departamentos para que o país tivesse um só governo e a guerra se tornou inevitável.

Ao longo da Campanha que duraria aproximadamente 8 meses, cerca de 15.000 revolucionários Blancos desafiaram os 36.000 soldados das tropas governistas (Colorados).

Os Blancos liderados pelo General Aparício Saravia repetiam as táticas da Revolução de 1897 com movimentos de tropas permanentes, batalhas isoladas seguidas de retiradas, recebiam material bélico vindos do Brasil e Argentina, e pretendiam estender o enfrentamento até que o governo se esgotasse e voltasse a negociar.
"Marchar separados, combater juntos" (Aparício Saravia).

Blancos / Partido Nacional

Por outro lado os Colorados liderados pelo governo central de José Batlle y Ordoñes se serviam de um exército mais organizado, mais disciplinado que usavam recursos modernos para época como a ferrovia para o transporte de armas, suprimentos e soldados, o telégrafo para comunicação rápida dos Generais com o Presidente e novas armas. Batlle dirigiu pessoalmente os movimentos militares e dividiu suas tropas em 2 grandes corpos: O do sul liderado por Justino Muniz e o do norte liderado por Manuel Benavente.
"Una sola ley, un solo gobierno y un solo ejército" (José Batlle y Ordoñes).


Colorados

Os primeiros enfrentamentos ocorreram no Departamento de Rivera, porém o primeiro combate de maior amplitude aconteceu em 14 de janeiro de 1904 na Batalha de Mansavillagra no atual Departamento de Florida.

Homenagem do Partido Nacional ao General Aparício Saravia.

Outros combates importantes marcaram a Revolução de 1904, que apesar da retirada dos Blancos na maioria deles, as batalhas se mostravam equilibradas. A inferioridade bélica dos rebeldes era compensada com a bravura de seus combatentes.

Batalhas da Revolução:
  • Mansavillagra - 14/01/1904.
  • Illscas - 15/01/1904.
  • Fray Marcos - 31/01/1904.
  • Paso del Parque (Rio Daymán) - 02/03/1904.
  • Paso de los Carros (Rio Olimar Grande) - 20/05/1904.
  • Guayabos - 06/06/1904.
  • Tupambaé - 22 e 23/06/1904.
  • Masoller - 01/09/1904.

Homenagem do Partido Nacional no campo de batalha.

Em Masoller há um palanque localizado ao lado da estrada (Ruta 30) que funciona como mirante para visualização do campo de batalha, hoje propriedade particular. Placas numeradas indicam acontecimentos durante o combate, mas infelizmente, não descobri em lugar algum o que realmente significam, pois não há legenda no local como existe por exemplo na Batalha de Arbolito² (departamento de Cerro largo).

Mirante em Masoller.


Campo de batalha em Masoller.


Hoje campos particulares utilizados na criação de gado.

Neste cenário em 1º de setembro de 1904, aconteceu um dos maiores combates da Revolução de 1904, equiparando-se talvez somente a Batalha de Tupambaé. 

Em Tupambaé, mortos e feridos contabilizaram aproximadamente 2.300 homens dos dois lados, em dois dias de combate.

Placa nº1 em Masoller.


Placas identificam acontecimentos no combate.

Anterior ao combate Batlle tirou Benavente e designou Muniz para o comando do Exército do Norte, que acampou em Tranqueras (povoado próximo), com a missão de deter o avanço dos Revolucionários para o oeste onde recebiam armamentos da Argentina. Porém com uma manobra bem planejada, Saravia entrou no Departamento de Artigas em meados de agosto o que ocasionou a demissão de Muniz que falhara em sua contenção. Batlle sem muitas opções, determinou que o Ministro da Guerra Eduardo Vázquez ocupasse as posições, o que o fez em Masoller, próximo a confluência territorial dos Departamentos de Rivera, Artigas e Salto em 27 de agosto de 1904.

Campo de Batalha em Masoller.

A Batalha de Masoller foi muito acirrada e equilibrada, os dois lados contavam com armamentos modernos, mas neste quesito o exército governista era superior, especialmente pelo uso das Metralhadoras Colt 7mm que disparavam cerca de 400 a 500 tiros por minuto, uma novidade para época. Não se sabe a quantidade exata, mas estima-se que as posições governistas tinham de 4 a 6 metralhadoras.

Essas metralhadoras já tinham se mostradas arrasadoras na Batalha de Tupambaé, sendo empregadas eficientemente contra as cargas da cavalaria revolucionária. Por esse motivo em Masoller não foi empregado cargas de lanceiros, foi empregada a cavalaria de ambos os lados, porém não com cargas de lanças.

Masoller - Uy.

As boas posições defensivas governistas que foram ocupadas sobre a cuchilha do Haedo, atrás de cercas de pedras - as quais foram construídas num período anterior ao alambramento existente hoje, utilizada para delimitar áreas para criação de gado (abordaremos esse assunto em uma postagem exclusiva) - também contavam com canhões Canet 75mm, porém estes com pouca precisão.

Canet 75mm.

A cavalaria governista contava com Carabinas Mauser 7mm (5 tiros), enquanto a infantaria dispunha de Fuzis Mauser 7mm com baioneta calada, porém em Masoller não foi empregado o enfrentamento a baionetas. 

Masoller - Uruguay.

O exército revolucionário por sua vez contava com Fuzil Remington 7 mm (mono tiro), Remington 11mm (porém este falhava muito), carabina 8 mm, winchester 44.40 entre outros. 

O diferencial inferior do Remington era que enquanto disparava 2 vezes, a Mauser governista disparava 5. Mas ambos eram rifles precisos de longo alcance.

Estima-se que 2 milhões à 2,5 milhões de tiros foram disparados na Batalha de Masoller. Porém não se tem dados da quantidade de mortos e feridos deixados pelo confronto.

Masoller

E ASSIM RESUMIU-SE O COMBATE:

As 10:00 hs da manhã do dia 1º de setembro as posições estavam definidas e ocupadas. Porém somente perto das 15:00 da tarde o General Aparicio Saravia ordenou os primeiro ataques revolucionários dando inicio ao combate.

Uma coluna revolucionária avança sobre o Cerro Lunarejo.

A Artilharia governista abre fogo com seus canhões Canet 75 mm. desde uma posição um pouco mais elevada denominada "Cerro Cachorros".

Os revolucionários atacam as posições governistas.

O combate é bravamente travado próximo as cercas de pedra, os revolucionários tomam algumas posições, porém não as ocupam por pensarem estar minadas, o que prontamente são retomadas pelos governistas. A estratégia revolucionária era esperar que os governistas ficassem sem ou com pouca munição, por conta do uso das metralhadoras Colt 7 mm.

A artilharia revolucionária dispara com seus canhões Krupp aos comandos de José Visillac.

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Campo de batalha em Masoller - Uruguai.

O General Aparicio Saravia, buscando elevar a moral de seus soldados, os quais comandava lutando junto no campo de batalha, fez uma manobra muito arriscada se expondo à frente de sua cavalaria, porém no alcance do fogo inimigo. Facilmente reconhecido pelo uso de seu chapéu e do seu famoso poncho branco, foi atingido por um disparo no abdômen (da esquerda para direita), danificando rins e intestinos ficando gravemente ferido.

A cavalaria governista avançam além dos muros de pedras para atacar o exército revolucionário.

A infantaria governista contra-ataca reforçando e protegendo a cavalaria da sua vanguarda.

Com o General Aparicio Saravia gravemente ferido, não resta mais nada aos revolucionários do que bater em retirada.

O bravo combate foi ferozmente travado durante aproximadamente 3 horas, não sendo contabilizado o número de baixas. A Batalha de Masoller foi o último combate da revolução de 1904.

Masolller - Uruguay.

Os revolucionários conseguiram remover o General Aparício Saravia gravemente ferido para o Brasil numa estância que ficava aproximadamente 5 quilômetros da fronteira.

Aparício também recebeu os cuidados do estudante de medicina Arturo Lussich.

Depois de 10 dias o General Aparício Saravia morreu por conta da hemorragia interna causada pelo ferimento a bala. Os revolucionários não chegaram a nenhum acordo quanto ao nome que substituiria o General no comando das tropas, e por fim, sua ordem de atacar os governistas na manhã seguinte a sua remoção não havia sido cumprida sem seu líder os revolucionários não puderam prosseguir a campanha dando fim a revolução.

A oficialização do final do conflito foi realizada em 24 de setembro de 1904, onde Basílio Muñoz assinou a Paz de Aceguá, caracterizada como uma rendição, onde os rebeldes obtiveram somente anistia geral e uma vaga promessa de uma reforma constitucional, a qual aconteceria somente em 1918. As tropas revolucionárias entregaram as armas em definitivo em 9 de outubro em troca de uma pequena retribuição.

José Batlle y Ordóñez tinha ganho e pode governar o país sem nenhuma divisão, após esta que foi a última Guerra Cívil em território uruguaio.

Aparício marcou o final da era de políticos legendários de estampa gauchesca no Uruguai. Encerrava-se um ciclo revolucionário, que da perspectiva cronológica iniciou-se com a Revolução Federalista 1893 (sul do Brasil), passou pelo conflito Blanco em 1897 (Uruguai) e culminou na Guerra de 1904.

Monumento ao General Aparício Saravia no Parque Internacional em Rivera / Uruguai.

Masoller hoje é calma, local estrategicamente ainda interessante, faz a tríplice fronteira entre três departamentos uruguaios (Rivera, Artigas e Salto), fronteira com o Brasil, com uma extensão de terra ainda contestada, mas pacificamente. Monumentos e marcos de fronteira são atrativos interessantes, bem com as cercas de pedras ainda existentes, testemunhas atuantes do confronto centenário. 

O pequeno povoado fica próximo ao Valle del Lunarejo e também dos Laureles, cachoeiras escondidas, sua tranquilidade é quebrada apenas pelo barulho dos carros que passam de vez em quando pela Ruta 30. No mês de setembro sempre acontece a "Marcha a Masoller, A cavalo por Aparício", cavalgada em comemoração aos acontecimentos históricos.



MASOLLER - A ÚLTIMA BATALHA!!!!!!!!!!!!!!!!!!



COORDENADAS GOOGLE EATRH: 31º04'27.50"S - 56º01'13.59" O.



TEXTO: Valfredo Neves.
Fonte: Wikipédia.org (Aparicio Saravia); fdra-historia.blogspot.com.br (la guerra civil uruguaia de 1904); enlacesuruguayos.com (revolucion 1904); espectador.com (A 100 años de la Batalla de Masoller); Museo sin Fronteras.



FOTOS: Valfredo Neves.

Veja fotos antigas da época em: http://enlacesuruguayos.com/Revolucion.1904.htm



VEJA TAMBÉM:
¹ Área territorial brasileira contestada pelo Uruguai:

² Batalha de Arbolito:


 VIDEOS SUGERIDOS:




4 comentários:

  1. Muito bom ler seu artículo. Vistei o sitio o sitio e achei a história apaixonante.

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    1. Obrigado!!!!
      Estamos todos nós cercados de muitas histórias... Importante poder resgata-las na medida em que nossa curiosidade nos cobra!!!!!!
      Um Grande Abraço!!!!!!!!

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  2. Parabens pela resenha, sou santanense mae argentina, avo uruguaio e pai brasileiro. Essas historias me chamam muito a atencao. A proposito acabei de ler um conto de Borges sobre o assunto: “La otra muerte”
    Recomendo a quem nao o tenha lido
    Saudacoes, Julio Silva

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    1. Olá Julio!!!!!
      Já estive nesse local várias vezes e consigo ver os cavalos correndo em minha imaginação, tenho fascínio pela história como um todo e realizei essa pesquisa com muita dedicação... Que bom que tenha gostado, com o passar do tempo visitei outros locais de combates em outras guerras que vou compartilhar em postagens futuras...

      Muito Obrigado pelo seu comentário e um Grande Abraço ao Amigo!!!!!!!!!!

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